sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Controle da Emigração

Semana passada, no sábado, peguei um avião com destino a Dublin. Não vou encompridar história, mas pra ir pra lá as autoridades precisam olhar o passaporte.

Eu tenho o novo passaporte brasileiro, aquele azul, com o "MERCOSUL" escrito. O passaporte é muito mais moderno e bonito, além de mais seguro. Mas cortando também a ladainha e ultra-valorização por minha parte, vamos aos fatos.

Entrego meu passaporte pro policial italiano e ele começa a folhear, colocar contra a luz, colocar a favor da luz, jogar pro alto, lamber etc. Aí ele vira pro outro policial e fala:
"Até que enfim o Brasil fez um passaporte decente".

Obviamente, o sangue me subiu à cabeça mas eu precisava demonstrar calma. O cara é policial E italiano, a pior combinação pra fazer o que quiser e não precisar explicar.

A resposta mental foi: "E vocês ainda estão tentando fazer um país decente né?"
Mas eu falei: "É o primeiro que o senhor vê?"

Ele confirma.

Aí ele vira pra mim e fala: "Ah, mas ainda assim está errado. Seu sobrenome está errado". Quando o cara veste uma farda aqui ele acha que recebeu poderes divinos. Aliás, ele acha que é capaz de atribuir poderes divinos.

Quem é ele pra falar que meu nome tá errado? Eu achei melhor concordar, pq com italiano cabeça dura o melhor é fazer é concordar e deixar ele achar que tem razão. Entender ele não vai mesmo, então eu não perco meu tempo e diminuo o tempo de convivência.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

A escova de dentes

Imagino que a imensa maioria das pessoas que está lendo tem o costume de escovar os dentes ao menos 3 vezes ao dia. Eu, particularmente, faço isso.

Em alguns dias específicos eu prefiro não voltar pra casa na hora do almoço e usufruir do restaurante universitário, já que tenho 2 horas entre as aulas da manhã e da tarde e acaba sendo meio incômodo fazer todo o trajeto de ida e volta. Nesses dias, eu levo minha escova de dentes e dou andamento à higiene pessoal após o almoço.

Não poucas vezes durante a minha ida ao banheiro eu ouço perguntas do tipo "Ué, mas vc traz a escova de dentes?" ou então "Pra que isso?". A resposta me parece tão óbvia quanto a pergunta é inútil, "Para poder escovar os dentes".

A verdade é que a grande maioria dos italianos (e isso já foi confirmado por uma amiga italiana) não escova os dentes com freqüência. O resultado disso é uma dentição muitas vezes escurecida (também por conta do café).

Uma coisa que também percebo no italiano médio é que eles se impressionam mais com o choque cultural do que nós, brasileiros. Quando vemos algo diferente da nossa cultura (como pagar por sacolas de supermercado, fechamentos de lojas no meio da semana) por mais que achemos estranho ou ridículo (respectivamente), não é uma coisa que fica sendo um choque, mas uma diferença. Sabemos que o mundo inteiro não é igual à nossa casa.

Aqui se verifica um pouco o contrário. Eles não costumam (boa parte da massa crítica) entender as diferenças culturais. Essa história de escovar os dentes, por exemplo, não é vista como uma coisa do tipo "No Brasil costuma-se escovar os dentes depois do almoço e, pra isso, se leva a escova na mochila", mas sim como "Que absurdo ele levando a escova pra faculdade, não tem nada a ver!".

É amigos, se eu que escovo os dentes com cuidado já levo bronca da dentista quando vou pra lá, imaginem se um desses daqui caísse nas mãos dela?

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Sustento

É impressionante como as coisas por aqui funcionam estranhamente. As lojas ficam abertas algumas poucas horas por dia, o atendimento é péssimo e todo mundo parece aceitar isso. Quero dizer, se você vai a uma loja, é mal atendido e reclama, eles defendem o atendente dizendo que o trabalho é pesado.

Trabalho pesado??? Eles encaram mais como se fosse um favor do que um trabalho. Veja bem, se o caso de uma loja que abre em horário contínuo, de manhã até de noite, não é revoltante:
Você entra em uma loja e gostaria de olhar algumas peças de roupa, e se dá conta de que não está na Arara designada. Vai até o atendente (primeiro descobre quem é, já que raramente eles se apresentam) e pergunta pelo tamanho correto:
- Por favor, gostei daquele casaco mas gostaria de provar o tamanho M.
- Deve estar logo ao lado - virando pra continuar a conversa com o/a colega.

E você, cliente, fica ali, jogado.

O que acontece pra que as pessoas atendam tão mal? Honestamente, eu não sei. Sei que o atendente não nenhuma motivação pra atender bem. Se ele for demitido, fatalmente existe algum auxílio do governo pra que ele continue ganhando dinheiro sem fazer nada.

Aqui é assim, você não tem emprego, você ganha do governo zilhões de facilidades pra continuar não fazendo nada. O correto seria que o governo ajudasse na procura de um emprego.

A visão relativamente socialista é difundida demais por aqui. Vira e mexe tem um sujeito distribuindo panfletos da "Luta Comunista" dentro do Politecnico. Ele, devidamente vestido com suas roupas de marcas capitalistas, pregando a luta comunista.

O que falta, na verdade, ao italiano médio, que não sabe nem mesmo onde fica a cidade de "Den Haag" ou Haia, em português ou ainda mais fácil, onde fica a cidade de Santiago (não de Compostela), é lógica. Lógica deturpada, que permite o cancelamento de uma festa de Ano Novo, que permite que se furem filas sistematicamente.

E quem arruinou a Itália? Eu continuo perguntando.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Internet

- Você tem internet em casa?
- Não
Conversa imaginada, para um estudante universitário, como razoável até meados do ano de 1999.

- Por que?
- Não é útil pra mim
Conversa inimaginável.

A verdade é que a Itália é um dos países com menor taxa de conexão à rede da Europa. De acordo com o LaStampa e o Instituto Istat, a península é a décima oitava na Europa, com 44% das famílias conectadas. Pra deixar ainda mais restrito e preciso, tais famílias são aquelas com pelo menos um integrante com idade entre 16 e 64 anos. Portanto, excluem-se aí as famílias de idosos.

Se forem contabilizadas também essas, o valor passa a 38,8%. Sei que comparar com o Brasil, aqui, exige cuidados. Grande parte da população brasileira não tem como acessar a rede por diversos motivos sócio-econômicos, é verdade.

Meu ponto é que, aqui, as famílias têm condições muito mais próximas umas das outras. A distribuição de renda é mais homogênea.

Partindo agora pra análise da segunda parte do diálogo, fica claro que o jovem médio italiano também se satisfaz com seu celular e a televisão. A TV aqui, que pode ser objeto de comentários no futuro, é uma eterna programação brasileira de domingo de tarde. Faustão e Gugu de diversos tamanhos e cores, todos os dias. É um festival de horrores.

Tudo bem que eu tenho motivos ainda mais fortes pra usar a internet, já que toda a minha família está no Brasil e fica sendo o modo mais eficiente de me comunicar com eles, mas pensar que é inútil, realmente é complicado.

Consultar se um livro está disponível na internet, ver a previsão do tempo, manter contato com parentes distantes, procurar oportunidades de emprego ou de lazer. Tudo isso é possível de ser feito.

Os mais radicais podem afirmar que a Itália, por ter uma população homogênea, muitos idosos, (relativamente a outros países), acaba não tendo o perfil de conexão para que todos se liguem à rede. Eu, sinceramente, não acho que isso seja limitação. Basta olhar nos comentários que uma figurinha certa é meu avô, que está sempre atento às atualizações e aos textos. Minha avó também lê sempre, só ainda não temos nenhum comentário dela. Como se não bastasse, começamos a usar agora o skype para nos comunicar.

O que falta, meus caros, na Itália, é realmente um pouco de motivação. A tentação de sentar no sofá e não fazer nada, olhando pra TV, é muito grande.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Depto. de Informações Inúteis

Chegando numa Agência de Turismo
- Boa tarde, gostaria de saber o preço de uma passagem de trem de Zurique (Suíça) a Innsbruck (Austria).
- Infelizmente não conseguimos fazer essa pesquisa por aqui, lamento, mas em Zurique o senhor consegue.

Não diga!!!! Quer dizer que na estação de trem de onde PARTE o trem, eu consigo??? Ainda bem que me avisaram, eu nunca imaginaria uma coisa assim mesmo.

Na Itália, qualquer lugar onde estiver escrito "informações" deve-se ler: "Seja mal atendido, pergunte-me como" ou então "Caras feias e má vontade GRÁTIS".

Uma empresa prestadora de serviços deveria ter como slogan "Péssimos serviços e atendimento, com garantia de não devolvermos o seu dinheiro".

Só falta agora descobrir onde colocar o "Depto. de Respostas Óbvias" e tudo fica perfeito.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

A neve derreteu

Todo mundo que estudou além da oitava série nos anos 90 (eu estiva lá, então posso garantir que, oficialmente, é verdade) sabe que o gelo (ou água sólida) derrete a temperaturas maiores de 0 (zero) graus Celsius.

Pois bem. Ontem nevou e a cidade toda ficou coberta pelo manto branco formado por bilhões de flocos. A temperatura caiu pra 2 graus durante a neve, subiu pra 3 logo depois e, durante a noite, manteve-se próxima do zero. Sabe-se, também, que a neve derrete.

Hoje de manhã, depois de um derretimento parcial e posterior congelamento (a geada é conhecida por muitos brasileiros), forma-se uma espécie de placa de gelo sobre as calçadas, ruas, carros etc.

O interessante é que a administração pública havia anunciado que, durante a noite, caminhões espalhariam sal pelas ruas e calçadas pra evitar o congelamento (O sal faz com que a água congele a temperaturas mais baixas e, portanto, não congele durante a noite).

Saí hoje pela manhã, o dia azul e claro, tudo coberto ainda de branco (neve já em placas) e os Alpes imponentes, novamente brancos, à minha esquerda. Babando, fui caminhando até o ponto de ônibus, o que uso menos freqüentemente, mas que tem uma vista das montanhas um pouco melhor. Eis que, após atravessar a rua, descubro que o sal espalhado pelas calçadas faz efeitos sim, quando existe!!! Nos pontos de ônibus tem sal, no caminho até ele não!! Então o que eu faço, coloco os patins pra ir até lá?

O resultado disso foi um escorregão sem queda. Ainda bem, porque uma queda além de molhar minha roupa toda teria 2 agravantes: eu estava indo fazer prova, a temperatura girava em torno de 1 grau.

Não caí, mas pude testemunhar mais um fenômeno da natureza, conseqüência de uma das coisas mais bonitas que existe nesse mundo.
Na minha lista de visões magníficas entra agora a nevada. Minha tia comentou que meu avô Dúlio, pai dela e do meu pai, comentava ter visto nevar na Europa nos anos finais de Segunda Guerra Mundial e, palavras dele, era "A coisa mais linda e silenciosa que cai do céu".

Agora, escorregar no gelo, eu prefiro ir até a pista de patinação e fazer isso oficialmente.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Contrastes

Vai parecer post repetido, mas com provas infinitas durante o mês, fica difícil escrever muito, portanto:

Domingo, 27 de janeiro de 2008, 17:46
Segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008, 17:23

Percebe-se a diferença???
Neve, muita neve!

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Pôr-do-sol

São raros os dias em que somos brindados com verdadeiras pinturas. Uma delas são os Alpes, outra é o pôr-do-sol com o céu colorido. Misture as duas e teremos a vista acima!

Durante a semana em que o frio deu uma trégua e permitiu que temperaturas mais altas (entre 10 e 15 graus).