sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Sacolas de Supermercado

No Brasil especificamente, ninguém nunca parou pra pensar quanto se paga pelas sacolas de supermercado. Sim, se paga por elas, mas o custo é colocado já nos produtos vendidos pela loja. Aqui é diferente, elas também têm preço e código de barras.

A primeira vez que no supermercado é até bem engraçada. Compra, 3 sacolinhas, pra aproveitar e usar no lixo depois e o preço final: Compra + €0,12 de sacolas. Sim, cada uma das sacolas de plástico pequenas custa €0,04 (R$0,11). Tem uma maior e um pouco melhor que sai por €0,15 (R$0,40) e outra ainda maior e custa €0,50 (R$1,40).

O que é feito, então, é: Compra-se da sacola um pouco melhor (€0,15 no meu caso) e se usa várias vezes. Aí, como acostumados que estamos a ver o jeitinho brasileiro, o pensamento que é inevitável: "Será que não vão achar que estou roubando do supermercado?". A resposta é óbvia, "não", e o motivo disso é simples: As pessoas acreditam em você no supermercado.

Novamente acostumados com o jeitinho brasileiro:
"Então se eu pegar sacolas e fingir que levei, não preciso pagar?". A resposta também é óbvia embora a pergunta não deveria nem ser feita. Não, acreditarão em você. Mas se o gasto com sacolas, da parte do supermercado, aumentar muito, com certeza os produtos vão subir de preço ou então as sacolas passarão a sair de graça.

De graça = custo embutido nos preços. Lembre-se, o supermercado não vai nivelar por baixo. A sacola de €0,50 com certeza não vai sair de graça, então quem perde? O esperto perde, claro. Ele não paga nunca a sacola mas começa a pagar depois. E quem é que vai ser o primeiro a reclamar do aumento? O esperto!

É uma pena, mas tem muita gente assim por aqui. Depois ganhamos uma fama que eu mesmo não posso contestar como sendo errada, por mais que não faça. Espero que, por enquanto, eu seja a regra e não a exceção.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Avanti popolo, facciamo sciopero!

Greve, substantivo feminino, cessação voluntária e coletiva do trabalho, decidida por assalariados para obtenção de benefícios materiais e/ou sociais, como melhoria das condições de trabalho, direitos trabalhistas etc., ou ainda para se garantirem as conquistas adquiridas que, porventura, estejam ameaçadas de supressão. Fonte: Houaiss.

A reivindicação dos direitos trabalhistas é, também, um direito. Eu entendo, mas discordo, de algumas modalidades de greve. Até isso, que teoricamente é uma coisa simples, é complicado aqui.
Simples: Não tem ônibus e pronto.

Vamos ao modo como funciona:
Inicialmente, não é greve de ônibus, é greve de transportes. Não, não transportes públicos, transportes. Sexta-feira, gentilmente denominada "Venerdì nero" ou "Sexta-feira negra" aqui na Itália significa que a greve atinge todos os setores de transporte possíveis (nesse caso, setor público). É que, nesse caso, a Alitalia, que ainda me parece ser do Governo Italiano, entra em greve. Não entra no meu conceito de transporte público, mas deixemos isso de lado.

Os ônibus em Torino, operados pela empresa GTT (Gruppo Torinese Trasporti), vão ficar parados por 8 horas no dia. Das 4:00 às 6:00, das 9:00 às 12:00 e das 15:00 às 18:00. Nas janelas entre esses horários, o serviço é normal.

Os trens, esses da Trenitalia/Ferrovia dello Stato, param entre 9:00 e 17:00 (8 horas) e a Alitalia e controladores de vôo outro período.

Eu volto a insistir: Por que facilitar o que pode ser complicado? Só o tempo que os grevistas levarão para parar o serviço por 3 horas e retomá-lo normalmente, já é uma coisa sem sentido. Greve séria mesmo é aquela que se faz no Brasil: pára TUDO. Metrô, CPTM (SP), SPTrans (SP), suspende-se o rodízio, anulam-se as multas (nem recurso de infração precisa) e o dia inteiro não tem o serviço (em geral vai).

Ah, lembrando que aqui tudo já fecha um dia por semana mesmo (dia útil), com greve, não se chega a lugar algum de ônibus.

(O ponto de vista do usuário, não entro no mérito das reivindicações. Se eu já reclamo do governo e me sinto maltratado por ele, imagina quem é seu funcionário).

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Não arranhemos o céu

A frase acima é o título de um grupo de discussão bem sério que está trabalhando por uma causa. Mas antes, eu explico mais ou menos o que aconteceu.

O Banco "Intesa/San Paolo" é um grande grupo bancário da Itália e, recentemente, encomendou um projeto para construção de um edifício para sua sede. O prédio seria construído em Torino. Digo "seria" construído porque já tem gente trabalhando contra.

Ao meu ver, o progresso modifica algumas das características das cidades e dos países, apresenta novas tecnologias e modifica. Não aqui. A movimentação para que não seja construído o novo prédio é tão grande que o projeto já está, como muita coisa visando o progresso, congelado.

As justificativas variam, dizendo que tem espaço suficiente no centro da cidade, que existem muitos escritórios vazios etc. O que eu acho que se esquece é que o centro da cidade é tão velho (não antigo, velho) que não comporta necessariamente um escritório que necessite de algumas tecnologias mais novas, grande número de computadores e sistemas de informação.

O que a Itália está tentando, e tem conseguido, é segurar o progresso como pode. Linhas de trem de alta velocidade existem poucas (muito poucas). A ligação com a França não sai porque tem grupos que não querem que seja construído um túnel. O prédio não vai sair porque senão vai ficar mais alto do que o atual símbolo da cidade (embora seja bem afastado dele).

Quem precisa de progresso? Se prender a tradição é o atalho para o futuro!

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Contas e mais contas

Chega um período do mês em todas as contas estão por vencer, os pagamentos devem ser colocados em dia e a corrida aos bancos ou casas lotéricas é grande. Cenário comum para a maioria dos brasileiros.

Aqui na Itália temos, para pagar: Aluguel, Telefone/internet, luz e gás. Simples, 4 contas, 4 vencimentos por mês, nenhuma complicação. Claro que, pra o sistema não ser tão simples, as empresas conseguiram bolar um esquema bem pior. Vamos a ele:
A conta de telefone vence de 2 em 2 meses e considera o consumo telefônico dos meses passados. A internet, que vem na mesma conta, por sua vez, é cobrada dos 2 meses seguintes. A conta de gás chega de 4 em 4 meses e considera dois meses passados e dois meses adiantados. A conta de luz, até hoje, não consegui entender e o aluguel vence todo mês dia 10.
Complicado? Pois é.

Não preciso dizer que elas vencem em dias diferentes e raramente coincidem no mesmo mês, mas quando isso ocorre, imagine-se pagando, ao mesmo tempo: 2 meses de telefone, 2 de internet, 4 de gás, 2 de luz e 1 de aluguel. É uma bolada.
Novembro tivemos sorte, chegou a conta do gás só.

sábado, 24 de novembro de 2007

Horário de Almoço

Muitos contam com uma hora de almoço, que é pouco, mas pelo menos ajuda a matar a fome e dar uma relaxada entre dois períodos do dia. Na faculdade (aqui e no Brasil) eu conto com 2 horas para essa atividade, oficialmente. Às vezes me parece muito, mas sei que vai fazer falta quando eu estiver trabalhando.

Os horários de almoço (ou “pausa pranzo” em italiano) variam muito aqui na Itália, sendo que praticamente nenhum deles é menor do que 1 hora e meia. Recolhendo alguns exemplos, consegue-se achar as coisas mais bizarras, vamos a elas:

Banco – 13:30 às 14:45

Loja de eletrônicos – 12:30 às 15:30

Papelaria – 12:00 às 15:00

Acho que dá pra ter uma idéia. E todos esses negócios abrem religiosamente no horário e fecham em torno de 10 minutos antes. Então, ao tentar entrar na loja de eletrônicos 12:20, você é barrado. “Estamos fechando” diz o atendente.

Claro, isso não evita o fechamento semanal. Domingo não abre, ponto. Mas um dia por semana a loja ou é fechada ou abre só meio período. A mesma loja de eletrônicos não abre segunda-feira de manhã.

O mais engraçado é que o horário de almoço não serve para nada além de comer mesmo. Aquela filosofia de dar uma passadinha ali na hora do almoço pra adiantar um serviço não se aplica. Invariavelmente após o expediente também não se encontra nada mais aberto. Então começa um jogo de montar horários, encaixas os meus horários livres com os horários de abertura das lojas e serviços e tentar colocar atividades nos horários de fechamento.

A vizinhança também faz variar um pouco esse cronograma. Supermercados da mesma rede fecham em dias diferentes dependendo da vizinhança. A maioria deles, no entanto, funciona durante o horário de almoço pelo menos.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Sbrubbles

Entrar numa fila tem a única concepção de procurar a última pessoa na ordem de chegada e me colocar logo atrás, esperando que todos façam o mesmo. Questão de respeito, quem chegou antes, entra antes.

Não preciso dizer que aqui não funciona assim. Ontem mesmo eu estava na padaria (sempre ela) procurando pãozinho pra comer de noite, mas descobri que ele acaba muito antes do que eu imaginava. A minha descoberta ocorreu, obviamente, depois que um senhor entrou na padaria e passou na minha frente como se eu não existisse. Comportamento esse que foi adotado também pela atendente, que tinha me vista ali mas resolveu atendê-lo antes.

Quando eu vejo uma fila eu ainda tenho o péssimo costume de ir até o final dela. Mas estou mudando! O dizer: “Se você está em Roma, faça como os romanos” é muito bem pensado. E sabe que comecei a ser até mais respeitado por fazer isso?

É verdade que não posso sempre furar a fila, mas sempre que posso eu furo sem me sentir mal! É uma experiência muito gratificante, deixa um pouco mais leve.

Por exemplo, na fila pra entrar no restaurante universitário, é fácil, é só se colocar conversando com um amigo mais ou menos no meio dela e, conforme for andando, você vai andando junto e pronto, passou. No supermercado, por exemplo, não dá. O que eu faço quando alguém tenta passar à minha frente é dizer que eu estava naquele lugar. A pessoa resmunga (normalmente bem alto), mas sai e eu me torno o centro dos olhares. Imagino o que passa pela cabeça das pessoas: “Que absurdo ele seguir a fila... onde já se viu?”.

Acho que, pra fechar e ilustrar o exemplo: Imagine que alguém chega pra você e fala que, a partir daquele momento, você deverá fazer sbrubbles. Você faz idéia do que seja isso? Não? Pois é... É o som que faz a palavra “fila” quando se fala italiano. Qual será a palavra equivalente no Brasil?

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Crise ferroviária

Ninguém precisa ser expert em turismo pra saber que época de Natal e Ano Novo é alta temporada de viagens. Também não precisa ser expert em economia pra saber que invariavelmente as passagens aéreas (até mesmo as low cost) são caríssimas nessa época.

O prudente é comprar com antecedência, pra ser eficiente e conseguir assegurar um lugar no final do ano pra passar as festas. Eu escolhi o trem.

Situando: Plano de viagem de aproximadamente 1100Km entre Torino e Reggio di Calabria, na casa de uma amiga minha. Tudo acertado, vi os preços dos trens e fui tentar comprar a passagem pra dia 22 de dezembro. Eis que não existe o trem no site, nem mesmo um comunicado. Já acostumado com o esquema de não conseguir a informação sempre no lugar mais conveniente (no próprio site) fui até a estação.

Chegando lá, sou informado que os trens serão inseridos no sistema na segunda-feira dia 12 de novembro. Ah, pelo menos espero mais uns dias e chega a informação, que bom.

Dia 12: nada. 13: nada... 14, 15... 19 finalmente aparecem os trens. Fui até a estação comprar, no final da tarde, e os bilhetes esgotados. Poxa, vacilei, demorei, mas o funcionário me informa que ainda não foram inseridos no sistema todos os trens. Até o momento um mísero trem entre Torino e Reggio di Calabria.

Eu nunca me contento com meias explicações e hoje descobri o motivo pelo qual os trens ainda não estão no sistema. Pasmem: O Estado italiano ainda não fechou o contrato com a empresa que administra a rede ferroviária que, por sua vez, não pode fechar o contrato com a empresa que opera os trens. Sem o dinheiro do Estado para a primeira, a segunda não pode operar também. Ah bom, o governo está demorando mais do que o esperado pra fechar um contrato (quem nunca ouviu isso afinal?). O único problema é que tanto a empresa administradora da rede quanto a empresa que opera os trens SÃO ESTATAIS!

Essencialmente, é tirar dinheiro do bolso esquerdo e passar pro direito, pra depois colocar no bolso de trás! Claro, não sem antes gastar algumas centenas de páginas em papéis inúteis.

E assim caminha a humanidade, o Brasil com crise aérea, a Itália com crise ferroviária, a França com greve de transporte público há 8 dias (o país está parado). E viva a eficiência!

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

30 e lode

O título é uma representação literal do maior desejo dos estudantes italianos. O mítico 30 e lode. Situando melhor: As notas das provas aqui variam entre 0 e 30, cuja mínima para aprovação é 18 e a máxima possível, quando se demonstra completo domínio do assunto, é o 30 com honras (lode).

A parte cômica é, no entanto, a quase obsessão deles por notas altas. Estudar na Itália é uma tarefa complicada para quem vem de uma cultura como a brasileira onde, quem é Politécnico sabe, o fato de ser aprovado na matéria já é a vitória. Aqui é diferente, valoriza-se a nota.

Na faculdade, muitos alunos depois de terminarem a prova oral (sim, oral) recebem a nota do professor. Suponhamos um 27. Isso pra mim equivale a 9, excelente nota para qualquer matéria que seja. Ele olha, pensa e RECUSA a nota. Isso quer dizer que ele não vai levar aquela nota e terá a chance de tentar de novo no próximo oferecimento da prova (em geral são 3).

Chega-se ao cúmulo de ocorrer um diálogo assim:

- Ah, quanto você tirou na matéria X?

- Tirei 25

- Poxa, sinto muito.

Sinto muito eu por você achar que isso é uma nota baixa. Eu fico imaginando um cara desse na minha faculdade no Brasil. Bom, isso seria um outro post.

Não é exagero meu não. A percepção de que o esquema decoreba predomina aqui não é só minha. Os estudantes brasileiros em geral percebem e, conversando com uma professora italiana, ela me fez ver dois problemas:

1- O italiano estuda menos pra aprender e mais pra ir bem, esquecendo quase tudo em pouco tempo;

2- Os países cujas empresas não exigem nota, mas exigem desenvoltura do candidato à vaga acabam sugando os cérebros italianos pra eles, deixando a Itália sem seus melhores profissionais.

A discussão toda pode se alongar demais, mas que o 30 e lode é uma palavra mágica e uma espécie de “falsa chave-mestra” isso é.

Além disso, com esse método decora-passa-esquece valorizado aqui por tantos professores, um curso de leitura dinâmica ou memorização talvez vendesse bem, muito bem. Slogan “30 e lode ou seu dinheiro de volta”.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Cruzamentos, esquinas e afins

O blog agora tem uma seção de links. Tais links levarão a páginas que tenham relevância aos temas abordados, verifiquem, fica logo acima do “Arquivo do Blog”. O primeiro foi uma indicação de uma amiga italiana que mostra mais ou menos o contraste entre Europa e Itália, o vídeo é bem famoso há algum tempo e se encaixa perfeitamente no Blog.

O trânsito. Andar de carro ou dirigir aqui na Itália são atividades que se traduzem como uma aventura radical. Tive algumas chances de pegar caronas ou de andar de taxi e, boa parte delas, foi “adrenalina pura”.

Na minha vida de pedestre, no entanto, percebo o efeito sutil, quase subjetivo que a lei de trânsito exerce sobre os motoristas. Quase todas as crianças brasileiras (desconheço as daqui, vejo pouquíssimas e falo com menos ainda), aprendem na escola que o semáforo tem três cores: vermelho, amarelo e verde. Para cada uma delas, existe um significado e um comportamento que deve ser adotado, ditado pela Lei. No caso do Brasil, o Código Nacional de Trânsito e aqui, o Codice della Strada.

Verde

Brasil: Siga.

Itália: Siga.

Verde e Amarelo

Brasil: Não existe.

Itália: Siga (Teoricamente é o sinal amarelo em Torino, mas o significado é esse).

Amarelo

Brasil: Atenção! Se estiver atravessando, siga, se estiver antes da faixa de pedestres, pare.

Itália: Embora o sinal esteja fechando, buzine algumas vezes e passe. Prepare-se para desviar de algum pedestre.

Vermelho

Brasil: Pare ou, se estiver de noite ou com muita pressa ou ninguém olhando, siga com cautela

Itália: Passe buzinando, prepare-se para reduzir a velocidade caso ninguém tenha ouvido sua buzina ou se algum pedestre resolver atravessar na faixa.

A minha conclusão é que tanto no Brasil quanto na Itália, o semáforo é freqüentemente desrespeitado. A questão é que o italiano encara o semáforo mais como uma “sugestão” de comportamento do que uma Lei. Prova disso é que raramente algum cruzamento conta com radares para multar os infratores como se vê freqüentemente no Brasil.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Um cafezinho bom!

Existe uma coisa que os italianos apreciam muito e se sentem orgulhosos por apreciar: o café. Eles não têm produção do café em si, mas pelo que pude perceber isso não influencia em nada.

O café não uma bebida nem um item pós-almoço, é um verdadeiro ritual. Tomar o café Vergnano é diferente de tomar o Lavazza ou o DL ou o Illy etc. etc. etc..

A imensa variedade disponível nos bares (e de bares, por que não dizer?) também deixa os forasteiros um pouco perdidos (perdidos e ponto final, quase nunca se aprende). Imagine só que ao pedir um café no bar, o que você receberá dali a 30 segundos é uma xícara pequena (do cafezinho brasileiro) com metade do seu volume cheio de um líquido preto.

Situação normal do bar: peço um café. Não gosto de café puro (mais forte aqui do que no Brasil, onde já não era acostumado a tomá-lo) e peço com um pouco de leite. Sou prontamente corrigido pelo barista:

- Macchiato - (manchado em português) - caldo o freddo?

Sim, se ele adicionar a gota de leite quente ou frio também é diferente, é outro café.

E a lista é longa: macchiato freddo, macchiato caldo, lungo, cappuccino etc.

Quando comentei outro dia com um italiano que eu prefiro um café um pouco maior, numa caneca maior, aprendi um aspecto muito importante, da influência da cultura estadunidense no Brasil. Palavras dele:

“O café americano é aquele grande e aguado, servido num copo tampado. Aquilo não é café. O único lugar onde se bebe o café da maneira correta é na Itália”. A maneira correta à qual ele se refere é em pequenas doses e bem forte.

Interessante é, também, observar o costume que os bares têm de servir um copinho de vidro pequeno com um gole (literalmente) de água com gás junto ao café. Bebe-se antes para preparar o paladar para o gosto acentuado do café ou então se bebe depois para tirar o gosto do café da boca.

Resumindo: O “café italiano”, o ritual, se bebe em 3 ou 4 goles. Se vier somente a xícara de café: três goles; com o copinho d’água: quatro goles. A exceção fica por conta do cappuccino, único que permite mais de cinco goles no mesmo ritual.

Além disso a etiqueta é severa: Convidou? Pague!

domingo, 18 de novembro de 2007

Compras

A ida ao supermercado já não é exatamente razão para euforia, mas como é algo que se precisa fazer, arrisquei ir no sábado, por volta de meio-dia. Acontece que devido a uma série de fatores, sábado não é o melhor dia para ir ao supermercado.

Manhã:

Quem acorda cedo aproveita pra ir cedo, pra pegar a maioria dos produtos recém-colocados na prateleira. Geladeira de iogurtes cheia, açougue com bandejas de carne recém cortadas e colocadas ali, grande variedade de caixa de macarrão (óbvio, estamos na Itália!!!) etc. Resultado: Cheio de gente. Fui uma vez e nunca mais, evitar o acotovelamento.

Horário do Almoço:

Pra evitar a turba da manhã, digamos, entre 9:00 e 12:00, escolhe-se ir entre 12:00 e 14:00. Esse é o horário em que as pessoas que pretendem almoçar um pouco mais tarde vão fazer suas compras. Mas dessa vez parece que as pessoas que fazem compras para o mês inteiro também resolveram aparecer. Acordaram com calma, tomaram um café-da-manhã e finalmente saíram com seus carros para chegar à loja. Resultado: Cheio de gente com carrinhos cheios de produtos. Infelizmente foi o horário que eu estava lá, no trânsito de carrinhos.

Logo após o almoço:

Entre 14:00 e 16:00 a variedade de produtos reduz drasticamente, só se encontra a pasta Barilla em forma de gravatinhas ou de parafusos, a única bandeja de lingüiça que sobrou é da lingüiça picante. Tentei já 2 vezes e sempre foi uma experiência frustrante.

Final do expediente:

Qualquer momento entre 16:00 e 20:00 seria somente para compras de emergência. Pãozinho fresco não tem mais, pasta Barilla só sobrou mesmo a gravatinha, iogurte tem do sabor café (mas não baunilha e morango), carne é missão impossível. Também já tentei algumas vezes mas nada.

Aí o que se pensa? Ah, vou deixar pra ir amanhã, domingo, que as coisas devem estar novamente fresquinhas. Aí você dá com a cara na porta, domingo é fechado!!!

No caso, quarta-feira de tarde também é fechado (fechamento semanal oras, como assim trabalhar TODOS os dias úteis? Francamente, onde já se viu?).

Ah, o outro supermercado também tem fechamento semanal, mas é segunda-feira, abre só às 15:00. E assim vai, pelo menos restaurante não fecha pra almoço.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Este lugar está vazio?

A pergunta pode parecer retórica, mas não é. Particularmente em alguns cenários. Vou ilustrar dois deles aqui.

Trem:

Viajar de trem tem todo aquele apelo romântico dos filmes, os campos verdes e as paisagens bucólicas e pastoris que só uma viagem sobre trilhos nos permite apreciar. Entra-se no trem e o vagão está até bem ocupado, pra cada assento livre, duas pessoas no trem. Aí eu paro ao lado de um assento livre, começo a tirar a mochila das costas e a pessoa se adianta a avisar: “Está ocupado”. Ligeiramente me movo dali pra um outro e, na terceira tentativa, acho o assento livre² (sim, ao quadrado, não basta não ter ninguem agora, não pode ter ninguém dali a alguns minutos também).

A mesma coisa pode ser aplicada às salas de aula. Você chega adiantado, mas pega o lugar no fundo, porque todos eles já estão ocupados. É uma espécie de coronelismo entre os mais fortes ou os que têm mais amigos ali dentro. Mas isso é outra coisa.

Ônibus (transporte coletivo):

Entra-se no ônibus, que está levando mais ou menos a lotação máxima de pessoas e casacos enormes de inverno (Cada pessoa ocupa um espaço equivalente a 1,5). É um enorme esforço pra passar da porta, já que todo mundo que vai descer na décima parada a partir dali já se prepara pra descer e fica bloqueando a entrada.

Como dizia... Entro ali, tanta gente em pé só pode significar uma coisa: Lotação total, vou ter que achar um local pra mim em pé. Surpreendentemente vejo um assento livre. Educadamente, ofereço à senhora ao meu lado se gostaria de se sentar e ela recusa, dizendo que já vai descer (na quinta parada a partir dali... mas isso é um relato futuro). Espero mais uns segundos e vejo que ninguém nem se manifesta, nem faz menção de pegar o lugar. Sento, leio minha revista, e saio.

Agora o que me intriga é, com tantos lugares livres-ocupados nos trens, porque os italianos não se sentam nos lugares livres-livres dos ônibus coletivos? Pior, mesmo com o ônibus vazio muitos viajam em pé (distâncias longas). Vai entender?

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Amo muito tudo isso!!

Hoje foi a vez do McDonald’s. Recebi alguns cupons de promoção, pra comer pagando pouco nas lojas da rede aqui em Torino. Não é de graça, mas pelo menos eu ganharia uma caixa de nuggets com o meu Big Mac.

Faço meu pedido e, depois que a atendente conseguiu aplicar o desconto do cupom, solicito o Milk-Shake que a Carol iria tomar. Claro, assim eu comia um almoço bem atrasado e ela me acompanharia num milk-shake.

A resposta da atendente foi a mesma que me deram há mais ou menos um mês: “A máquina está quebrada, não temos sorvetes nem Milk-Shakes”. 1 mês amigos, 30 dias que a máquina está quebrada!!! Será que os técnicos estão em greve? (Greve aqui é muito comum... abram um jornal e leiam: greve na França, greve na Alemanha).

O modelo de negócios do McDonald’s seria fast-food. Obviamente o “fast”aqui é relativo, bem longe de significar velocidade para os conceitos brasileiros. Até que fui servido rapidamente hoje, só 5 minutos de espera.

O que não dá, e isso eu hoje entendo, é continuar comendo sorvete de casquinha de lá e achar que é bom, depois de provar as sorveterias artesanais italianas (“le gelaterie italiane”).

Que atire a primeira pedra quem nunca comeu, mas eu adoro McDonald’s.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Desculpe, uma pergunta por vez...

Parece um pedido simples, mas a situação em que cheguei a essa conclusão foi bem diferente do usual. Morar na Europa sem a existência de um centro esportivo pra um futebolzinho com os amigos na sexta-feira, depois da aula de Resistência de Estruturas, me fez procurar uma academia para fazer natação.

A piscina sempre tinha (porque não sou louco de ir nadar no inverno) em torno de 8 a 10 pessoas por raia, o que tornava impraticável a natação. Eu me sentia dentro de um caldeirão cozinhando.

Bom, resolvi descobrir se a piscina esvaziaria ou não antes do meu horário de nadar, o diálogo que se segue é mais ou menos assim:

Eu: Boa noite, gostaria de saber a que horas terminam as aulas que estão acontecendo agora.
Funcionário: Depende, qual aula você quer saber?

(Eram 2 aulas apenas... natação e hidroginástica)

Eu: A da primeira raia.
Ele: Primeira raia?

(Primeira raia, tinha uma “primeira” raia de um lado da piscina e uma “primeira” raia do outro, resolvi esclarecer)
Eu: É, essa aqui ó (apontando pra ele a raia)
Ele: Ah, a aula de Aquagym (que é lido, em italiano, aquagimã)

(Repetindo a pergunta)
Eu: Sim, a que horas termina?
Ele: às 20:00.

(Até aqui tudo bem, ele me respondeu perfeitamente, mas eu caí na infelicidade de continuar)

Eu: Quanto à outra aula, de natação, mesma hora?
Ele: Olha, você me perguntou de Aquagym, qual você quer saber?

(Sem entender muito bem a dificuldade na minha pergunta, respondo)
Eu: As duas
Ele: A de Aquagym termina às 20:00.

Eu desisti... Não tem sentido continuar... De repente ele desmaia por ter pensado demais, tem que chamar ambulância. Melhor não, resolvi esperar e nunca descobri o horário de término da aula de natação.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

A Estréia

Caríssimos leitores, aqui estou. Aqui, também, começa o blog que pretende passar um pouco das facetas da vida na península itálica, continente europeu!

Temo, e eu me incluía nesse grupo, a mania de não valorizar muito o local original de nossa vida. Via de regra queremos fugir, partir pra um lugar melhor, com mais desenvolvimento e senso se cultura. Eis que uns conseguem, e nesse grupo eu ainda me incluo, sair do país original e ir estudar num desses territórios ditos evoluídos, "primeiro-mundo" para os mais familiarizados com o conceito.

Me propus uma tarefa simples e corriqueira alguns minutos atrás: Comprar um pão na padaria (Sabe quando dá vontade de comer um pão?? Poxa, a Itália faz excelentes pães, a França faz excelentes baguetes e, estando na região da Itália mais próxima da França, sucesso garantido).

Chego na padaria, são 18:15, horário em que todos estão voltando pra casa dos seus trabalhos, passam na padaria e compram um pãozinho que é feito com a mesma massa da baguete, certo? ERRADO. A padaria, essa hora, já não tem mais pão. "Tutto finito" insiste a balconista. Eu pergunto: "Não sai outra fornada?" e aí ela assume uma postura típica da sua cultura (como o Hulk fica verde e aumenta de tamanho, sabem?) e responde, com aquele sorriso da também italiana Gioconda (Monalisa, talvez mais comum): "Ma guardi, tutto finito!" que traduzido para o português seria: "Olha aqui, tudo acabado".

Afinal, por que uma padaria deveria ter pães às 18:15???